sexta-feira, abril 11, 2008

sempre que ficava de férias ele mudava os hábitos - quase sem perceber - de modo que acordava tonto, invariavelmente tarde, alguma culpa do sono torto, da manhã perdida, do café frio. muito embora logo depois passasse - e passava. até o próximo acordar, que era agudo umas vezes, grave em outras. era previsível, muito previsível para si, mas que fazer se despertador algum o punha fora da cama? tinha medo que se estendesse: ficasse viciado em dormir/acordar muito tarde e não conseguisse voltar aos horários habituais após as férias. bobagem, no geral era bobagem. pois sempre acabava conseguindo com não muito grande esforço. tinha vontade de viajar - vontades doidas assim, que vinham - fazer as malas e partir. não pra muito longe, nem por muito tempo, ou sim (talvez), na maioria das vezes se tratava só de andar, olhar, viver. se apaixonar? quem sabe, mas não era o principal, não mais o principal. dito assim parece que alguma vez já o fôra (e já?). vontade também de bicicletas, pedalar em campos ou lugares bons de serem vivenciados sobre movimento, vento, chuva ou sol, sem esconder tanto quanto faria um automóvel. sim, vontade de se expor. mostrar ao mundo quem era ou ao menos que era, existia, estava ali - todavia, contudo, no entanto. uma vez teve raiva de uma pessoa que chegou em seu quarto e por descuido, quebrou o ventilador. não conseguiu mais dormir, calor emanando de todos os lados, cantos, poros, paredes, vapor lhe entorpecendo os pensamentos. tudo se transformando em uma enorme nuvem, bloqueando qualquer possibilidade de ar:
pensava que
às vezes é preciso chover.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom!