Lua cheia

De todos (aqueles poucos) instantes em que: ousava mostrar alguma coisa que não era só ousadia, era uma luz brilhante e piscante dentro de algum lugar dela mesma. Que era uma luz fugidia e embaralhada, parecia por vezes ilusão de ótica, mas aquilo existia, não enquanto existência de luz mas como momento luminoso e preciso. De todos esses momentos ela necessitava. Mas sem saber que. Só após acontecer dessa estrela-luz vir à tona é que percebia como, sentia como essa coisa dentro dela era tão dela e a fazia sentir tão viva, que era a própria existência em flashes, essa coisa que era quase sempre escondida e subversiva, quando emanava, em cada momento seu de aparição era exata e tão, como um vaga-lume. Do qual a luzinha amarela e iluminada que pisca dele e nele a cada 3 segundos é tudo que sabemos dele, nele, e é certeza incrível.

Nesses instantes ela era de uma forma doida. Doida de doidice mesmo, que é coisa a qual não somos acostumados, era uma presença fora do costume, presença presentificada, porque era presença enquanto inteiro, pura atenção.

Era uma coisa florescendo em palavras e gestos e corpo. Era uma conversa que ia além do que não se sabia falar, ia desabrochando junto com a lua por detrás das nuvens. Não se arrependia. Não se arrependia de nada que brotava negro ou colorido dentro dela, embora as emoções ora a pegassem de surpresa, era tudo uma verdade só. Tudo uma minuciosa e irresistível verdade que se construía ali, tão perto, dentro dela. E era ordem, desordem, claros e escuros, nojo, gozo, morte ou vida, pecados e milagres. Tudo vida pulsando. Tudo indo de encontro a uma leveza e paz e quietude de alma: dos instantes em que.